Começou com uma oferta, o primeiro encontro entre Hillary Clinton, a secretária de Estado americana, e o chefe da diplomacia do Kremlin, Serguei Lavrov. Em nome do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Clinton ofereceu a Lavrov um botão de "reiniciar", em sinal da vontade que Washington repetiu várias vezes esta semana de "recomeçar do zero" nas relações com Moscovo.
Para já, "foi só um começo", disse Hillary no final do jantar em Genebra, na Suíça, tendo acabado por admitir que o aquecimento das relações entre os EUA e a Rússia "é um processo que vai levar tempo". E, talvez, aponta, porque "é preciso mais confiança e mais previsibilidade" entre os dois países.
No encontro, que durou cerca de uma hora e meia, Clinton e Lavrov enumeraram as áreas em que Rússia e EUA têm um interesse comum. No topo, Clinton salienta a luta contra a proliferação de armas, o Irão e o seu programa nuclear, o Afeganistão e a luta contra o narcotráfico. "Tencionamos chegar a um acordo até ao fim do ano" sobre o tratado de redução de armas estratégicas, garantiu Hillary numa conferência de imprensa conjunta em que ambos os líderes evitaram entrar em pormenores.
O assunto ausente foram os planos americanos de instalação de escudos antimíssil na República Checa e Polónia - movimentação a que Moscovo mantém uma oposição sonora, com receios para a sua segurança.
O jantar entre os dois responsáveis é uma espécie de prelúdio para o primeiro encontro entre Obama e Medvedev à margem da reunião do G20, em Londres, a 2 de Abril. "Estamos a apalpar o terreno", disse Hillary ainda em Bruxelas, a propósito da forma como podem EUA e Rússia mitigar as discórdias. Na prática, o primeiro passo foi o apoio norte-americano, na última quinta-feira, ao restabelecimento das relações entre a Rússia e a Aliança Atlântica, cortadas no Verão em consequência do conflito na Geórgia.
Ainda assim, mesmo que Washington queira investir na proximidade com a Rússia, Hillary Clinton avisou que o seu país não vai abdicar da sua posição no que toca a temas como a separação da Ossétia e da Abcásia da Geórgia. "É necessário algum progresso no processo de Genebra" - cidade onde decorrem, sob a égide da ONU, as negociações sobre a partição do território georgiano.
À partida para Genebra, Hillary Clinton falou de "posições diametralmente opostas". Nomeadamente, os EUA rejeitam liminarmente que a Rússia tente manter uma zona de influência na Europa e que vete a entrada da Geórgia e da Ucrânia na NATO. A diplomata chegou, aliás, a repetir a mensagem por diversas vezes antes de chegar à Suíça: "Os Estados Unidos não vão abandonar os seus aliados."
Ainda que na forma o discurso pareça mais descontraído e haja sinais positivos de ambas as partes, pode dizer-se que o verdadeiro teste para as relações entre Washington e Moscovo tem data marcada para 2 de Abril, altura em que Obama e Medvedev se encontram cara a cara.
Fonte: Diário de Notícias
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